30 abril 2007

"Olhai por nós"

Era mais de três da manhã e eu, burro, ao invés de pedir um carro para empresa e voltar para casa são e salvo, decidi pegar um taxi e depois pedir reembolso. Claro que eu não contava que o ponto próximo não era 24 horas, e que não adiantaria nada voltar ao escritório (não é o tipo de lugar onde você se sente feliz por ter que enrolar três horas, ainda mais com fome e com sono). Conclusão brilhante? Vamos a pé para casa, afinal, sabe-se lá quanto tempo demoraria se eu ligasse para um rádio-taxi, levando em conta que moro a 15 minutos do escritório.

Respirei fundo e comecei minha caminhada, em passo apressado. Já fiz isso mais de 1000 vezes voltando de balada, porque não faria voltando do escritório? Fora que quando voltava da balada era com pelo menos umas três tequilas na corrente sanguínea, então, obviamente, eu estava numa situação muito mais segura que das outras (aham). Basta fazer cara de mal, não olhar para os lados (se for necessário, apenas com o canto dos olhos. Olhar rápido demonstra medo, então o esquema é ou encarar, que nem sempre é saudável, ou fingir que não dá a mínima pro mundo, em geral mais seguro), e andar como se tivesse todo o objetivo do mundo a alcançar. Claro que ficar alerta praquele carinha há mais de 200 metros, que você mal enxerga por conta da distância e escuridão, também pode ser algo inteligente.

O caso é que subi uma rua inteira completamente deserta, peguei uma quebrada residêncial e entrei numa outra que durante o dia somente tem comércios. É um centro comercial bem decadente, como alguns trechos do centro da cidade de S. Paulo, que fica completamente vazio a noite com um ou outro mendigo aqui e ali e uns drogadinhos pelos cantos. Neste mar de tranquilidade, vejo uma figurinha vindo lá de baixo meio como de bobeira, dando umas medidas e vendo qual era a minha (levando em conta o meu estado físico e mental depois de quase 16 horas de trabalho, creio que devia ter uma feição psicótica além do meu comum naquela hora. Isso pode ter dado a idéia de que eu estava drogado ao cara, o que evitou uma abordagem imediata).

Comecei a me despedir do meu celular, carteira e qualquer outra coisa que carregava que tivesse algum valor quando, de um bar nojento na outra esquina, sai um homem completamente bêbado caminhando com a ajuda de uma prostituta. Vendo aquilo, senti uma sensação de alívio e, seguindo meu caminho, comecei a caminhar próximo do casal até entrar numa ruazinha onde existe umas 5 ou 6 "casas de tolerança" em sequência, e todos os botecos podres que você puder imaginar - e então eu me senti seguro, sem medo, quase como que amparado. Quem vai se meter a besta de tentar algo num pedaço como aquele, onde o que as pessoas menos querem é a atenção policial ou coisa do gênero? Claro, o sujeito desbaratinou e entrou numa outra rua escura. Dali pra diante, fui por um trecho do meu bairro que tem alguns barzinhos mais chiques e que tem mais movimento, mesmo para uma terça-feira e consegui chegar em casa vivo, inteiro e com todos meus pertences. Cheguei a conclusão que sim, há quem olhe por nós nos momentos difíceis em que mais precisamos de proteção.

Deus abençoe as putas e os bêbados.

Marcadores: ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial