14 dezembro 2007

Tinha uma pedra no meio do caminho

Vivo e quase inteiro depois de fazer a Trilha Inca. Sem dúvida alguma, o maior esforço físico que já fiz na minha vida toda... Foram 46km em 4 dias carregando uma mochila de 12 quilos pelo meio do mato, descendo morro, subindo morro, descendo morro, subindo morro.

Um resumo de como tudo foi:

1.o Dia: Chegamos no tal km 82 de sei lá que rodovia, onde começa a trilha inca de 4 dias (tem a de 2 e a de 5. Você pode optar também por chegar em Machu Picchu via Salkantay, que é uma montanha nevada, em 5 dias também). Tudo bonito e maravilhoso, aquele ar destemido de quem vai fazer algo grandioso (igual ao que outros 500 turistas que sao permitidos por dia entrar na trilha). O dia estava bonito e, bravamente, fizemos os primeiros 10km de trilha embaixo de um sol de rachar. Neste primeiro dia, descobri que a tal folha de coca é completamente essencial para conseguir manter o fôlego. Acampamos e nos preparamos para o dia seguinte.

2.o Dia: 6 horas da manhā e já estávamos na trilha. Tudo bonito, tudo bacana e haja subida. Neste ponto eu entendi que o Drummond estava neste lugar quando fez seu poema sobre a pedra no caminho... Só tinha isso, e levando em conta que tudo era subida, foi bem complicada a situaçāo - mas foi tudo muito divertido, diga-se de passagem, embora exaustivo. Paramos no próximo ponto de acampamento onde descansamos a parte da tarde. Neste dia eu estava completamente zen, em harmonia com a natureza, o ar, a água e tinha fé renovada na humanidade. Falta de oxigenaçāo cerebral, provavelmente.

3.o Dia: Choveu. E isso tornou as coisas bastante difíceis. Eu já nāo tenho o melhor dos equilíbrios e, adicionando uma mochila gigantesca e um monte de pedras molhadas para pisar, tive a maior dificuldade do mundo para passar este dia (com direito a levar dois capotes no meio do caminho em passagens de 1.5 mts de largura na beira do abismo. Felizmente, uma eu cai pra traz e a outra sai rolando pra frente). Neste ponto estávamos já na trilha Inca feita pelos próprios, toda em pedra e com algumas ruinas pelo caminho. Também é neste dia que você se faz uma pergunta de ordem universal, uma questāo espiritual das mais elevadas propriedades: porque esse bando de índio filhos de umas putas gostavam tanto de fazer escadas? 17km depois do início deste dia pousamos no último acampamento da trilha.

4.o Dia: Fizemos os 6km restantes. Infelizmente, a neblina estava muito espessa nos mirantes que do caminho já dava para ver Machu Picchu, e só conseguimos ver a cidade em si quando chegamos lá. O lugar é incrível e simplesmente nāo é possível transmitir em palavras ou fotos o que ele é realmente. Acho que até se perde um pouco de sanidade quando se vê aquele lugar no meio de todas aquelas montanhas monstruosamente grandes. Ficamos por lá até 1 ou duas da tarde com a supervisāo da guia e, quando a chuva voltou, fomos observar o lugar de longe. Uma coisa legal que descobri e que acaba de vez com aquela idéia absurda das populações ocidentais sobre eles e os egípcios, como a ajuda de aliens ou baboseiras assim:

- Se tem SIM idéia de como eles cortaram as pedras de forma tão certinha e já comprovaram que o suposto método dá certo. Eles simplesmente acharam um jeito de aproveitar as fissuras naturais da rocha para quebra-las e depois lixa-las de forma a ter um encaixe perfeito. Ou seja, praticamente os inventores do lego.

- Como eles levaram aquele monte de pedras até lá em cima? Óbvio, já estavam lá em cima. Dãã. As montanhas são rocha quase pura, dava pra tirar de qualquer lugar. E carrega-las de um lugar pro outro era simples também, era só arrumar meia dúzia de troncos e ir rolando a pedra por cima deles. Dããããããããã! Alienígenas... Só porque a Europa quer se considerar a civilização mais avançada de todos os tempos, ficam inventando lorotas de que houve ajuda externa pros caras fazerem coisas que eles não conseguiram ou não sabiam explicar.

Se algum dia puderem fazer este passeio, eu recomendo e muito. Se achar que o caminho é muito puxado, há a opção de se ir até lá de trem - mas eu duvido muito que se dará o mesmo valor e que se terá a mesma compreensão de quem vem pelo caminho Inca.

No final da tarde fomos para uma cidade ao lado chamada Aguas Calientes onde há fontes termais - Fred e Carol, meus companheiros de viagem, foram ver qual que era. Eu aproveitei pra dormir um pouco mais. Hoje de manhazinha voltamos a Cusco e amanhã iremos fazer o passeio do Vale Sagrado dos Incas e, depois de amanhã faremos a viagem de 14 horas até Nazca, famosa pelas formas gigantes desenhadas pelo extinto povo Nazca no solo, sabe-se lá pra quem.

Até.

No próximo post puxarei fotos para cá.

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